Mulher Achada

Minha casa na Rua Japurá, era linda, vivia cheia de gente, muitas festas bombadas, muitos se apaixonavam por ela e sempre alguém dizia:  

“Se algum dia você quiser alugar ou vender essa casa me avisa.”

Quando decidi sair de São Paulo depois de morar 24 anos assustei muitos amigos. Confesso que para muitos, lista extensa, deixei pra avisar perto da data. 

Outros pensei… Vou avisa-los por e-mail, comunicando que minha casa está disponível para aluguel. 

Foi o que fiz, avisei.

Bastou pra bomba explodir, rs. 

Foram muitos e mails… Na mesma hora comecei a receber retorno.

“O que está acontecendo? Você está bem?”

“Não entendi esse e mail. Explica!”

“Como assim, casa alugando?”

“Você está mudando de SP? Quero saber mais.”

Essa pergunta veio do Caversan amigo querido de anos,  jornalista que na época escrevia crônicas na Folha todos os sábados.

Iniciamos uma conversa, fui contando minha decisão e na mesma hora ele perguntou: Topa me contar mais para eu escrever sobre nesse sábado? Não cito seu nome.

Topei na hora e liberei, caso quisesse, dizer meu nome.

Caver me conhecia, e conhecia bastante da minha historia, foi impecável na escrita. A partir do momento que saiu, dias depois, na Folha de São Paulo, espalhei pra galera e nas minhas redes.

Foi incrível!

Eu amo esse texto me vejo por inteira nele. Como esse link  #olivro é pras histórias reais da minha vida…

O caminhão encostou no dia 3 de junho de 2007, dia 4 saia com meu carro rumo a nova moradia Juiz de Fora onde morei por nove anos retornando pra São Paulo onde estou de volta há quatro anos.

Sou mineira, mas meu coração é paulistano.

A crônica 

26/05/2007 

Uma mulher achada

Ela viveu os 1980, 1990 e os sete anos deste século em meio ao que se pode chamar de modernidade. No coração da cultura, dos agitos, das noites, das festas, das loucuras desvairadas dos 80, dos compromissos mais sérios mas não menos “in” dos 90, sempre em meio ao que fazia a vida “valer a pena”.

Uma mulher afinada com seu tempo, independente, casa própria, livre para ir e vir no grande palco da megalópole paulistana e seu mar de “coisas para fazer”.

Mas ela quer mais, muito mais.

Por isso, vai atrás de menos.

Como assim?

É, bem menos, em termos: deixa a vida em São Paulo e vai para o interior de Minas, já que meio a caminho, mais para a frente um pouco, do litoral baiano, o destino digamos assim final.

Estes são, pelo menos, seus planos.

A tranqüilidade como comunica e explica isso espanta, pela pessoa espevitada que ainda é, pela moça articulada e antenada que sempre foi, sintonia fina com as coisas mundanas, melhores e piores.

Ela viveu “de um tudo” e agora quer redescobrir seus desejos e seus ideais e tentar chegar o mais perto possível de ser “plenamente feliz…”

Será que dá?

Não importa. O que vale, aqui, é o exemplo.

Em tempos de tanta gente procurando, tantas e tantas demandas em expansão, tanta gente perdida, eis um exemplo gratificante de uma mulher “achada”, que descobriu exatamente o que quer e vai.

“Eu nunca me bastei, nem tampouco o que vi e vivi. Quero mais!”

Tem gostinho de independência, poder mandar às favas tudo isso e partir para uma vida mais simples e calma, pergunto eu? Ela : “Tem gostinho de liberdade. Independência sem liberdade não tem a menor graça. Quebrar regras e conceitos em busca da vida maior!”

Buscar menos para ser maior?

Com a irreverência costumeira, diz: “É ligar o foda-se, confiar e ir”.

Detalhe: ela está amando…

Será que isso conta?

“O amor chegou no meio do processo, quando tudo já estava acontecendo…”

Um up-grade, um bônus, um prêmio, talvez, para quem teve a coragem de ir atrás de si mesmo, e vai.

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos ‘Cotidiano’, ‘Ilustrada’ e ‘Dinheiro’, entre outras funções. Escreve aos sábados.

Reproduzindo aqui pra você, mas tem também o link da crônica abaixo.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizcaversan/383466-puma-mulher-achadap.shtml?origin=uol