Ensaios à Distância

“Achei” Maria depois de uma conversa com a Melissa amiga e fotógrafa. Ela me conta que “achou” uma fotógrafa que estava fazendo ensaios a distancia. Oi? A geminiana já enlouqueceu, rs, manda o perfil dela…
E cá estamos.
Mandei um direct…
Ela gentil respondeu
Não bastou.
Pedi o celular propondo um papinho?
Ela enviou e topou.
Coincidências?
Minutos de conversa, percebi pela voz que era mineira. Acertei!
A mãe de Juiz de Fora, tem família por lá.
A cidade que morei dos 7 aos 21.
Qual seu signo?
Capricórnio com Aquário.
Igual à mamãe.
Não acabou…
No dia da foto veio uma nova pergunta:
Maria sabe que depois que nos falamos e olhando uma foto sua agora já sabendo seu sobrenome, achei que você parece com uma amiga de infância que tem esse sobrenome.
A Mabi.
Sim minha prima. Nessa lembrei que conheci uma prima de BH e no caso tia e madrinha da Maria. Arrepiei me emocionei e agradeci mais uma vez ao universo, aos encontros a magia de estar nesse planeta azulzinho.
Mabi virou estrelinha há doze anos, no mesmo mês que papai partiu. Nossa amizade iniciou aos 9 anos. Moramos juntas um pouco no Rio de Janeiro e depois de alguns anos ela veio morar comigo em São Paulo.
A vida é linda!
A força, o amor à disponibilidade feminina une pessoas com propósitos ou não, mas une. Pensem sempre nisso.
Obrigada Maria pela generosidade, pelo encontro, pela história!
Amei minhas fotos foi numa manhã de sexta feira.

Eu por Ela
Foto Maria Ribeiro
Lá fora o sol, aqui dentro a cumplicidade feminina.
As perguntas…
Quem é a Maria Ribeiro?
Qual a sua relação com a fotografia? Como começou?
Conta de onde veio à ideia, genial, dos ensaios a distancia?
Qual o sentimento ao fotografar?
Conte alguma história bacana vivenciada nas suas andanças?
Qual seu sonho de vida?
Próxima realização?
O que diria para inspirar nossas seguidoras?
A história real…
Sou mineira de BH, tenho 34 anos, capricorniana com ascendente em aquário, formada em Audiovisual. Quando me formei meus primeiros trabalhos foram como assistente de fotógrafos (moda e publicidade) e também assistente no cinema publicitário. Lá pude acompanhar os bastidores da criação de um padrão estático que fazia basicamente com que milhões de mulheres – inclusive eu, na época – se odiassem.
Via as modelos e atrizes que fotografávamos e, apesar delas se encaixarem num padrão estético absurdamente excludente, a pessoa real que estava ali diante de mim não era, de forma alguma, a que estava nas revistas e outdoors. Isso aconteceu quando comecei a ter contato mais profundo com o movimento feminista e tudo isso me fez questionar a forma como estávamos representando os corpos femininos na mídia.
A partir desses questionamentos, criei meu primeiro projeto: Nós, Madalenas – Uma palavra pelo feminismo, no qual cada mulher escolhia uma palavra que representasse o feminismo dentro da sua própria trajetória e a gente escrevia essa palavra em seus corpos com batom. Depois fazíamos um retrato de cada mulher, PB, sem photoshop ou manipulação de imagem. Hoje em dia isso é comum, mas em 2014 quando comecei a fotografar ainda não era e causou um choque nas pessoas.

Foto Maria Ribeiro
O projeto viralizou na internet e foi transformado em um livro. Nele, retrato cem mulheres de todas as idades, cores e contextos. Além das imagens, cada uma escreveu um relato em primeira pessoa compartilhando sua história e a relação com a palavra escolhida.
A partir de então faço diversos projetos sempre no intuito de colocar mulheres diversas em um lugar de protagonismo sobre nossos corpos e nossas narrativas. Alguns deles são: “don’t photoshop me” – um manifesto para que a mídia pare de manipular corpos femininos, “mulheres da terra” projeto feito com mulheres indígenas e “caliandras” feito com mulheres do sertão de minas (rezadeiras, benzedeiras, parteiras).

Foto Maria Ribeiro

Foto Maria Ribeiro

Foto Maria Ribeiro
Em 2017 fui premiada pela ONU Mulheres em NYC e selecionada, juntamente com mais nove fotógrafas do mundo inteiro, para fazer um vídeo arte que foi exibido no CSW em NY. Fui também convidada para falar no youth fórum sobre o meu trabalho.
Desde 2019 meu projeto tem sido as vivências fotográficas: um ritual de cura onde trago elementos que aprendi ao logo da vida no intuito de propiciar uma experiência holística na reconexão com nossos corpos. Com meditação guiada, aromaterapia, biodança, entre outros, a vivência cria um ambiente propício para que façamos fotos reais e terapêuticas.
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Os ensaios à distância surgiram como uma opção em tempos de quarentena no sentido de podermos continuar criando e estabelecendo conexões entre nós. Eu vi alguns fotógrafos postando prints e retratos feitos por chamada de vídeo e pensei então por que não tentar fazer um ensaio desse jeito?
A experiência tem sido surpreendente! Abre um monte de novas possibilidades e nos coloca em um lugar onde a distância não existe. Fotografei mulheres na Argentina, na Itália, em Minas, enfim, isso não faz mais a menor diferença. Se por um lado abrimos mão do controle absoluto e da resolução perfeita, encontramos um espaço de co-criação, de surpresas e de uma simplicidade única encontrada em meio a essa tecnologia.
Pra mim, nós artistas encontrarmos em nós a energia, a conexão e a inspiração de CRIAR em um momento como esse é um movimento de resistência. Tempos assim tornam a máxima “a arte existe quando a vida não é o suficiente” mais intensa, pois o que seria de nós agora se não existisse a arte? As imagens, as músicas, a literatura, o cinema? Mostra que a criação artística, que geralmente é negligenciada como algo supérfluo, é na realidade essencial e vital para a existência humana.
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Meu trabalho tem base antropológica no Mito da Beleza – Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres lindamente escrito por Naomi Wolf. Nele, ela coloca que a estratégia atual do mito é nos bombardear com imagens do ideal em voga, causando uma desconexão da nossa própria imagem com aquilo que entendemos como signos de beleza. Meu objetivo com o meu trabalho é nos bombardear com imagens humanas, imagens de corpos femininos em toda a sua diversidade e riqueza. Imagens que colocam mulheres de todos os corpos, tamanhos, cores e idades enquanto seres plenos, fortes, lindos e vitoriosos. Assim, conseguimos começar a reprogramar o nosso subconsciente para criar uma identificação real com o que somos: mulheres humanas, não objetos sexualizados para consumo.