BROTAS POR VICENTE NEGRÃO

Tem gente que chega à vida da gente e nada explica e nem precisa.
Não me lembro quando nos conhecemos nem como, mas sei que faz muuuuuitos anos e que nosso amor é pra sempre, esteja onde estivermos. Estamos unidos no coração e nas nossas histórias que viverão para sempre.
Assim é
Assim seja!
Minha editoria amor é o #porai que conta histórias recheadas de amor e dicas incìveis, aqui a prova de tudo isso.
Obrigada Vicente!
Em Brotas brotam os brotos*
Provavelmente você já ouviu falar de Brotas, em alguma conversa sobre destinos de viagem ou pesquisa pelo assunto. Brotas assumiu, em poucas décadas, o título de capital nacional do esporte de aventura e dos amantes do ecoturismo.
Bom, eu vou falar de outra Brotas, aquela que em 1839 viu nascer uma capelinha, embrião da cidade, na fazenda de uma – pasmem – mulher!!! Sim, há 182 anos a cidade foi fundada por uma mulher que não era a mulher de ninguém, mas a própria dona da fazenda: Dona Francisca Ribeiro dos Reis. Esse fato em si, que quase ninguém fala ou conhece, já faz dessa uma cidade diferente. Que mulher maravilhosa era essa que fundava uma cidade há quase 200 anos atrás???
Avaliando neste prisma, Brotas sempre foi uma cidade de mulheres poderosas e corajosas. Quando eu era garoto, nos anos 70, plena ditadura, a Câmara Municipal foi várias vezes presididas por mulheres. Dona Vera, Dona Olinda, sempre foram líderes que já atuavam na política numa terra e num momento de forte pensamento conservador.
Desde a derrocada do café, em 1929, a cidade foi se encolhendo, e até os anos 80 ficou vivendo das suas imensas terras explorada pela cana-de-açúcar, pelo eucalipto, ou laranja, dependendo da demanda do mercado agro.
Até que a cidade se uniu para tentar impedir a implementação de um curtume, uma das atividades mais poluidoras do mundo. Em conversa com o prefeito, esse grupo foi questionado em quais seriam as alternativas para a cidade “se desenvolver” senão aquela. Buscando a resposta uma turma de garotos, guiados por um senhor visionário e sonhador, começaram a mapear as mais de 30 cachoeiras que o município tem. Logo eles abriram a primeira agência de turismo da cidade e passaram a explorar a decida de boia, no rio Jacaré, coisa que todos nós fazíamos na cidade, como opção turística. Isso além das visitas às tantas cachoeiras visitadas.
Hoje muitas das propriedades onde estão estas cachoeiras se transformaram em pequenos resorts, atrações e empreendimentos turísticos.
Agora que você já ficou com vontade de conhecer, aposto, vou falar de alguns lugares que eu já frequentava desde essa época e que ainda continuam muito especiais. Um que eu e meus amigos íamos muita era a Areia que Canta, um local mágico, um broto de água envolto de areia cristalina, que nasce no meio de uma pequena mata, na fazenda dos Farsoni, gente da melhor categoria. Gosto de dizer que meus pais eram muito libertários porque pegávamos carona nos caminhões de iam recolher leite nas fazendas, isso por volta das 5h da manhã na Leiteria (o entreposto de leite na cidade) e só voltávamos com os mesmos caminhões que recolhiam as segundas retiradas do leite, às 5 da tarde. Lá hoje é um hotel com várias atrações que sozinho dá conta de muitos dias de hospedagem.
Dentro da cidade, acessível a todos, está o Parque dos Saltos, onde eu nadava e mergulhava, e que até hoje muita gente se diverte fazendo o mesmo, inclusive eu. Neste complexo de cachoeiras a cidade – no auge de seu progresso, 1910 – 1920, por conta da produção de café -, construiu uma pequena usina hidrelétrica para gerar energia. Veja que modernidade, energia limpa e sustentável. A vocação pra sustentabilidade já estava nas veias (ou nos rios) de Brotas.
No mesmo Rio Jacaré, num trecho acima está o Poção, onde o rio faz uma piscina natural após uma série de corredeiras. Era de lá que a gente partia para descer o rio com as boias de pneu de caminhão e que hoje oferece uma série de atividades como arvorismo, pousada e um restaurante que por si só vale a visita.
Tomar uma ducha em qualquer uma das cachoeiras da cidade refresca o corpo e lava a alma. Minha predileta chama-se Santa Maria, com alguma dificuldade de acesso. Mas tem Cassorova, Martelo, Ator, Escorregador, não faltam opções. Escolha uma e aventure-se!
Deu fome, né? Uma tilápia fritinha pode ser a pedida perfeita para um almoço fora da cidade. Como tudo aqui é memória, a indicação é o pesqueiro, Bica D´Água, numa estradinha de sai de Brotas e segue pra Dourado, onde eu passei a infância brincando e comendo o delicioso pão da Dona Amélia, colhendo poncãs no pomar e me entretendo com a bomba que era movida por uma roda d´água (essa está lá até hoje). Se você gosta de pescar pode comer as próprias tilápias que conseguir fisgar. Lá o André e a Ana Amélia vão te tratar tão bem que não tem como não voltar.
Mas se não quiser sair da cidade pode ir ao Vicino della Nonna, onde as massas são fabricadas e servidas por uma equipe bem atenciosa. O jardim dos fundos do restaurante é lindo, onde eu brinquei toda a infância pois a nonna do nome do restaurante era a minha avó – Dona Nezita -e o jardim era o quintal da sua casa, quase uma chácara na época, que terminava num riacho.
Seguindo a trilha das minhas lembranças, antes de ir embora da cidade, passe na Dona Emília e compre um requeijão, com a receita igual a da minha mãe. É bom demais!
Com tanto lugar lindo e recheado de histórias, Brotas é uma viagem gostosa, com ótimas estradas de acesso, está no centro do estado de São Paulo e ainda tem centenas de outras coisas que eu não te contei aqui. Deixo pra você descobrir por lá.
Ahhh, aquele senhor sonhador lá do início da conversa…é o meu pai!
*A frase no título era o nome de uma república de brotenses em Piracicaba nos anos 70.